“Edward Mãos de Tesoura” foi o primeiro filme da parceria duradoura entre o diretor Tim Burton e o ator Johnny Depp. Burton vinha de sucessos como “Os Fantasma Se Divertem” (1988) e o arrasa-quarteirão “Batman – O Filme”, de 1989. Já Depp fazia algum sucesso por causa de uma série televisiva chamada “Anjos da Lei” e de pequenas participações em obras como “A Hora do Pesadelo” (1984) e “Platoon” (1986). Mas nada expressivo. Já “Edward” foi seu primeiro grande papel e seu primeiro grande sucesso. Depp se estabeleceu não apenas como um ator em potencial na indústria, como o filme também foi importante para consolidar a própria carreira de Burton como um realizador de estilo e autenticidade.
Na trama, Peg Boggs (Dianne Wiest) é uma vendedora de produtos Avon que inesperadamente descobre Edward dentro de uma mansão perto do subúrbio onde mora. Jovem e sozinho no imenso castelo, Boggs decide levar o rapaz para casa. Mas Edward é diferente. Criado por um inventor (Vincent Price), no lugar das mãos ele possui lâminas afiadas. Isto o impede de se aproximar das pessoas e tudo muda após Edward se apaixonar pela filha de Peg, chamada Kim (Winona Ryder).
“Edward” é um conte de fadas moderno que fala sobre aceitação. Projeto bastante pessoal para Burton, o protagonista é inspirado no próprio diretor que cresceu se sentindo deslocado e rejeitado até encontrar nas artes o refúgio para sua solidão. Para se ter uma ideia, o diretor, quando criança, ia ao cemitério e passava horas ali desenhando e criando personagens.
“Edward” nasceu do apelo para debater os contrastes sociais e como a sociedade ainda caminha devagar quando se depara com algo diferente, pouco convencional. Burton localiza a história em um típico subúrbio norte-americano e não segura a mão ao retratar o local com a monotonia de um típico exemplar do sonho americano. Casas com cores diversas, tudo extremamente organizado, e famílias compostas por mulheres fofoqueiras e pouco produtivas – enquanto seus maridos passam o dia fora trabalhando – um tédio que só vendo!
O cenário criado por Burton pode ser aplicado a diversos tipos de exemplos. E Edward é a tipificação não apenas do sujeito tímido e receoso, mas também pode se encaixar como o deficiente do grupo, o negro do bairro ou qualquer figura frequentemente vista como “diferente” – principalmente em uma sociedade predominantemente branca do século XX.
Mas, acima de tudo, “Edward Mãos de Tesoura” é um filme sobre amor. Sobre ser amado. Sobre ser aceito. Sobre ser parte de algo. O estilo gótico e lúdico de Burton colabora para a construção narrativa de uma trama fantástica, mas também fala muito sobre emoções e sentimentos compartilhados por todos nós em algum momento de nossas vidas. E tudo se torna ainda mais emocionante por causa da atuação sutil, emocionante e memorável de Johnny Depp, que expressa cada sentimento de Edward através dos olhares e da movimentação corporal. Um trabalho magistral, poderoso e inesquecível.
Disponível para assistir no Disney+, “Edward Mãos de Tesoura”, mesmo após 31 anos desde o seu lançamento, continua uma obra sensível e tocante, e particularmente, permanece como o meu filme favorito de Burton.
Edward Scissorhands/EUA – 1990
Dirigido por: Tim Burton
Com: Johnny Depp, Winona Ryder, Dianne Wiest, Kathy Baker…
Sinopse: Peg Boggs (Dianne Wiest) é uma vendedora da Avon que acidentalmente descobre Edward (Johnny Depp), jovem que mora sozinho em um castelo no topo de uma montanha, criado por um inventor (Vincent Price) que morreu antes de dar mãos ao estranho ser, que possui apenas enormes lâminas no lugar delas. Isto o impede de poder se aproximar dos humanos, a não ser para criar revolucionários cortes de cabelos, mas ele dá vazão à sua solidão interior ao podar a vegetação em forma de figuras ou esculpir lindas imagens no gelo. No entanto, Edward é vítima da sua inocência e, se é amado por uns, é perseguido e usado por outros.
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