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5 de fevereiro de 2025
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(Foto: Reprodução)

Iniciativa oferece à indústria de cosméticos alternativa para identificar substâncias que possam causar malformações congênitas em bebês. Pesquisadora recebeu 10 mil libras esterlinas (quase R$ 69 mil). Mestranda da UFG ganha prêmio internacional por projeto para substituir testes em animais
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Goiás (UFG), Lauren Dalat foi premiada no Lush Prize 2024, em Londres. A pesquisadora apresentou um projeto que propõe a substituição de testes em animais na indústria de cosméticos por um modelo de testagem que usa células-tronco extraídas de dentes.
A pesquisa demonstrou que células-tronco dentárias podem ser usadas para identificar substâncias em cosméticos que possam causar malformações congênitas em bebês. Atualmente, a testagem é feita em animais ou em células extraídas de animais. No entanto, segundo a pesquisadora, os experimentos como são feitos atualmente podem não refletir com precisão a reação em humanos.
Para o Lush Prize, Lauren Dalat sugeriu uma plataforma para testar substâncias em cosméticos usando um modelo que combina pele humana 3D e células-tronco dentárias.
“Não acreditei quando fui pré-selecionada e fiquei ainda mais feliz quando recebemos esse reconhecimento. Além disso, é importante para reforçar a necessidade de criação de novas metodologias que não utilizem animais”, disse a pesquisadora ao g1.
A pesquisadora de 25 anos venceu na categoria Jovem Pesquisador e recebeu um prêmio de 10 mil libras esterlinas (quase R$ 69 mil). Segundo ela, o dinheiro será utilizado para dar continuidade à pesquisa, já que o modelo de testagem proposto ainda não está pronto para ser usado na indústria.
Pesquisa desenvolvida na UFG sugere alternativa para testes em animais – Goiás
Arquivo Pessoal/Lauren Dalat
Lauren contou que faz parte de um grupo de pesquisa que se dedica ao estudo de alternativas para testes com animais, sob orientação da professora Marize Campos Valadares, no Laboratório de Ensino e Pesquisa em Toxicologia In Vitro da Faculdade de Farmácia da UFG (Tox In-FF/UFG). A partir do trabalho da equipe, os participantes desenvolveram diversos estudos na área.
“Sempre gostei muito de animais e atuei em diversas causas, então consegui unir o útil ao agradável. Minha colega sempre diz que consegui juntar o amor pelos animais com a pesquisa, que também é algo que eu sempre gostei”, contou.
Lauren Dalat destacou que a alternativa de testagem com células-tronco dentárias propõe um método mais confiável e ético para testar cosméticos, garantindo a segurança dos consumidores sem recorrer ao uso de animais. “O principal problema dessa metodologia [teste em animais], além de ser eticamente questionável, é o fato de que pode haver variação entre as espécies, ou seja, a resposta do animal pode não ser igual à resposta humana”, explicou.
“É uma técnica cara e trabalhosa, e, além disso, utiliza um grande número de animais por experimento”, completou.
Regras para testagem em animais
Lauren Dalat e a orientadora na Universidade Federal de Goiás
Arquivo pessoal/Lauren Dalat
Lauren explicou que a Resolução nº 58, de 2023, proibiu o uso de animais vertebrados em pesquisa científica e no desenvolvimento de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes que já tenham ingredientes comprovadamente seguros e eficazes. Por isso, as indústrias necessitam de abordagens alternativas.
“Acredito que, aqui no laboratório, abordamos duas questões: o aspecto ético, porque não faz sentido submeter um animal a um ensaio com baixa predição, e a obtenção de respostas mais fidedignas usando linhagens celulares e cultivos primários de células humanas, em vez de animais”, ressaltou.
A pesquisadora explicou que os dentes e a pele utilizados no modelo de testagem sugerido podem ser obtidos por meio de doações voluntárias, de doadores saudáveis de 5 a 30 anos. A pele, por exemplo, pode ser doada após remoção cirúrgica do excesso de pele.
Tragédia da Talidomida
A pesquisadora contou que, em meados da década de 1960, houve uma tragédia relacionada ao uso de um medicamento chamado talidomida, que foi amplamente prescrito para combater náuseas em mulheres grávidas em todo o mundo. Posteriormente, descobriu-se que o remédio era responsável por um grande número de malformações congênitas.
Lauren Dalat explicou que ensaios pré-clínicos em animais não mostraram efeitos teratogênicos (capacidade de causar malformações no feto) do remédio.
“No entanto, uma vez metabolizada no corpo humano, ocorria a formação do isômero S, que apresentava essa propriedade teratogênica. Isso resultou nos casos de focomelia em bebês expostos à talidomida, onde ocorria a ausência de membros superiores ou inferiores”, explicou.
Lauren defende que a testagem em tecido de pele humana 3D com derivados de células-tronco dentárias permite avaliar os efeitos de forma mais realista. A pesquisadora destacou ainda que a metodologia padrão atual para detectar o potencial teratogênico envolve, em média, 1 mil animais por experimento.
Já no modelo proposto, é possível cultivar várias garrafas de células-tronco a partir de uma única amostra. “A partir de um dente, é possível extrair células-tronco da papila, do ligamento e da polpa. Como extraímos essas células dos explantes (fragmentos do tecido), é possível cultivar várias garrafas a partir de uma única amostra”, explicou.
Lush Prize
Lauren Dalat ganha prêmio em Londres
Arquivo Pessoal/Lauren Dalat
O Lush Prize oferece um fundo global para apoiar iniciativas que visam acabar ou substituir os testes em animais. O prêmio abrange cinco categorias principais: Ciência, Educação, Conscientização Pública, Lobbying e Jovem Pesquisador/a. Além disso, há três prêmios de reconhecimento especial: Colaboração Científica Importante, Realização Política e o Prêmio Andrew Tyler, por contribuições excepcionais para a erradicação dos testes em animais.
Em 2024, Lauren Dalat foi a única pesquisadora brasileira e vencer em uma categoria. Ao todo, foram 14 projetos vencedores, de 9 países diferentes.
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FONTE: https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2024/06/23/mestranda-da-ufg-ganha-premio-internacional-por-projeto-com-celulas-tronco-para-substituir-testes-em-animais.ghtml

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Produto à base de babosa desenvolvido na UFG ajuda polícia a identificar corpos no IML

A aloe vera, popularmente conhecida como babosa, ganhou destaque em um produto desenvolvido na Universidade Federal de Goiás (UFG) em parceria com a Polícia Civil de Goiás (PC-GO). Após a imersão no líquido, as impressões digitais de corpos em condições difíceis de reconhecimento, como os carbonizados ou mumificados, se tornam mais visíveis e facilitam a identificação.

“A babosa é importante porque é uma planta que produz um gel hidratante e substâncias que combinam muito com a pele. Neste caso, a identificação papiloscópica é feita através do contato desse extrato de babosa com a papila [pequeno relevo da superfície dos dedos]”, explicou Edemilson Cardoso, professor coordenador do projeto de criação do produto.

Considerado barato e inovador, o produto foi criado na Faculdade de Farmácia (FF) da UFG e é usado pela Superintendência de Identificação Humana (SIH) nas Unidades de Necropapiloscopia da PC-GO, em Institutos Médicos Legais (IMLs). Com a ação do extrato de babosa, o papiloscopista faz a “leitura” da digital de forma mais clara e rápida, segundo Lais Nogueira Magno, coordenadora da Divisão de Tecnologia, Pesquisa e Desenvolvimento da SIH.

“Para alguns tipos de cadáveres especiais, é comum usar a glicerina. Em algumas situações, o dedo do cadáver poderia ficar até uma semana para que as cristas de fricção aparecessem para a coleta de impressões digitais. Fazendo um paralelo com o extrato de aloe vera, já conseguimos bons resultados com 24 horas em que o dedo foi submetido à solução”, descreveu Lais.

Produto à base de babosa desenvolvido na UFG ajuda polícia a identificar corpos no IML em Goiânia Goiás — Foto: Michel Gomes/g1 Goiás

Com a glicerina, a identificação poderia demorar até uma semana e, com o produto de babosa, em 24 horas as equipes do SIH já tiveram resultados positivos. Outro ponto que destaca a importância do composto é o custo. Segundo Edemilson Cardoso, com cerca de R$ 100, é possível produzir 10 litros do produto, que pode durar por meses.

“É bem vantajoso. Alguns produtos que utilizamos são importados, outros só conseguimos comprar em grande quantidade. Com essa parceria com o laboratório da UFG, conseguimos produzir uma grande quantidade de material utilizando produtos naturais com um valor muito acessível”, completou Lais.

A coordenadora ponderou que um litro da glicerina usada para a identificação custa entre R$ 70 e R$ 90. A equipe usa cerca de 5 a 10 ml de glicerina por dedo tratado.

Métodos de identificação humana

Lais Nogueira Magno, coordenadora da Divisão de Tecnologia, Pesquisa e Desenvolvimento da SIH da Polícia Civil de Goiás — Foto: Michel Gomes/g1 Goiás

Antes de entender como o produto com babosa funciona, é importante conhecer os métodos de identificação de cadáveres. Ao g1, Lais Nogueira explicou que no IML são usados três métodos:

  • Identificação pelas impressões digitais: Feita pela Superintendência de Identificação Humana (SIH)
  • Identificação pela arcada dentária: Feita pela Superintendência de Polícia Técnico-Científica (SPTC)
  • Identificação pelo DNA: Feita pela Superintendência de Polícia Técnico-Científica (SPTC)

Lais explicou que a necropapiloscopia, método de identificação humana por meio de impressões digitais, é o método mais rápido, barato e acessível. “A utilização desse produto da babosa auxilia nosso trabalho de identificação por impressão digital nos IMLs”, pontuou.

Planta babosa em Goiânia, Goiás — Foto: Michel Gomes/g1 Goiás

A parceria entre a UFG e o SIH surgiu a partir de um estudo empírico, tipo de pesquisa baseado em observações, experiências reais e outros meios para coletar dados. Segundo Lais Nogueira, o pontapé foi de um papiloscopista policial que, em meados de 2019, iniciou pesquisas utilizando babosa na identificação de corpos em Jataí, no sudoeste goiano.

Em seguida, a superintendência procurou a UFG e começaram os estudos. O produto foi desenvolvido no Laboratório de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) de Bioprodutos, orientado pelo professor Edemilson Cardoso, com a participação dos alunos de iniciação científica: Laura Ribeiro Mendonça, Livia Ferreira Schmaltz, Thalia Vitória Cordeiro, Penélope Péclat Zeppelini e Geanini Vitória Costa Coelho.

“A superintendência estava procurando uma alternativa para identificar os cadáveres especiais, como, por exemplo, mumificados, queimados e afogados. Procuramos essas técnicas alternativas e começamos a trabalhar. Houve uma pausa devido à pandemia e, depois, retomamos o trabalho”, explicou Edemilson Cardoso.

A partir de maio de 2023, a UFG e a PC-GO iniciaram um termo de cooperação, por meio da superintendência, para começar oficialmente a utilização de bioprodutos, como o de babosa, para a identificação necropapiloscópica.

Gel extraído da babosa em Goiânia, Goiás — Foto: Michel Gomes/g1 Goiás

Mas afinal, por que a planta comum em muitos lares brasileiros se tornou base do produto? Conforme Edemilson Cardoso, a planta é usada em muitos produtos, como sabonetes e outros medicamentos. O gel hidratante que a babosa produz é poderoso e multifuncional, de acordo com o professor.

No entanto, a utilização para identificação humana é novidade.

“É uma tecnologia interessante, inovadora devido à aplicação e também à maneira que fazemos o processo. Às vezes, as pessoas não dão importância para essas plantas que estão ao nosso lado há muito tempo. Há um conhecimento da população muito grande que podemos utilizar em novas aplicações”, detalhou o professor.

Veja como é feito produto à base de babosa desenvolvido na UFG

As babosas usadas para a produção do produto são plantadas no horto de plantas medicinais da Faculdade de Farmácia da UFG. Os alunos e o professor cuidam diretamente do horto, o que é importante para a formação universitária, segundo Edemilson.

“Os alunos também colocam as mãos na terra, porque hoje a maioria das pessoas está distante dela. Para ser farmacêutico, acredito que é necessário ter pelo menos noções de utilização de plantas medicinais”, avaliou Edemilson.

Edemilson Cardoso, professor coordenador do projeto de criação de produto com babosa desenvolvido na UFG ajuda polícia a identificar corpos no IML em Goiânia — Foto: Michel Gomes/g1 Goiás

Após todo o cuidado no cultivo e manutenção feitos pelo professor e pelos alunos, as babosas são colhidas, descascadas, e um dos líquidos que sai dela é removido, por ser considerado tóxico. Finalmente, o extrato é retirado. Esta fase do processo dura cerca de 12 horas.

Com o extrato pronto, outras substâncias, como água e álcool, são misturadas de forma totalmente padronizada. Todo o processo é feito para garantir a qualidade e a durabilidade do produto, conforme explicou o professor responsável.

“Com 1 kg de babosa você faz 10 litros do produto. Rende bastante. Dependendo da demanda, dura em torno de seis meses”, afirmou Edemilson.

Impressões digitais tratadas com babosa pela Superintendência de Identificação Humana da Polícia Civil de Goiás — Foto: Michel Gomes/g1 Goiás

Ao falar sobre o produto, é consenso entre Edemilson e Laís: só há vantagens na utilização para a identificação humana. Lais explicou que o uso faz com que a polícia dê uma resposta mais rápida à sociedade, especialmente em casos de cadáveres especiais cuja identificação pode demorar. Neste sentido, o produto acelera o processo e tem um apelo social.

“Muitas vezes, não temos a identificação do cadáver especial, ou não há como coletar. DNA demora, às vezes a pessoa não tem a documentação odontológica para fazer a comparação da arcada dentária. Então, se conseguimos identificar esse cadáver mais rápido, é uma família que está sendo beneficiada, podendo fazer o sepultamento decente, além de garantir os direitos civis daquela pessoa”, avaliou Lais.

Os cadáveres sem identificação são chamados de “cadáveres ignorados”. Segundo Lais, a identificação deles gera os seguintes desdobramentos: auxiliar uma investigação criminal, ajudar na busca de pessoas desaparecidas ou liberar um cadáver para sepultamento.

Impressões digitais tratadas com babosa pela Superintendência de Identificação Humana da Polícia Civil de Goiás — Foto: Michel Gomes/g1 Goiás

Se a polícia não sabe quem é o cadáver e consegue identificar, a investigação começa a partir do nome da pessoa e toda a apuração policial decorre dessa informação.

Quando o cadáver é identificado, a Divisão de Pessoas Desaparecidas é acionada para verificar se há alguma família procurando.

“Uma vez que identificamos esse cadáver, podemos verificar se há um boletim de ocorrência de desaparecimento. Assim, conseguimos localizar a família e dar a ela a notícia de que encontrou um familiar desaparecido”, disse Lais.

Impressões digitais tratadas com babosa pela Superintendência de Identificação Humana da Polícia Civil de Goiás — Foto: Michel Gomes/g1 Goiás

Ainda conforme Lais, se o corpo está em difícil condição de identificação, como os carbonizados e está sem documentos, com o produto a polícia consegue acelerar o processo de identificação para liberar o corpo para a família fazer o velório e sepultamento.

“Em todas essas nuances na identificação, essa parceria com a Faculdade de Farmácia nos auxilia a dar uma resposta mais rápida, independente da esfera em que estamos atuando”, pontuou Lais.

Além dos benefícios para a atuação, a coordenadora da Divisão de Tecnologia, Pesquisa e Desenvolvimento da SIH avaliou que o produto à base de babosa tem um impacto positivo para o meio ambiente e para a saúde dos servidores.

“Alguns materiais ou substâncias que utilizamos podem, a longo prazo, causar algum malefício à saúde do servidor. Em comparação, quando utilizamos produtos de origem natural, não temos esse impacto negativo. Além disso, é positivo para o meio ambiente, especialmente em relação ao descarte”, finalizou.

Planta babosa em Goiânia, Goiás — Foto: Michel Gomes/g1 Goiás

Raquel Vaz Rezende, papiloscopista policial e chefe da Sessão de Inovação e Identificação Humana, concorda com Lais ao mencionar que o produto é inovador em diversos sentidos.

“É inovadora essa questão de pegar algo da natureza, um conhecimento empírico da comunidade, e trazer isso para a polícia para nos ajudar nessa busca, nessa corrida contra o tempo para identificar os corpos o mais rápido possível”, completou Raquel.

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Os professores da Universidade Federal de Goiás (UFG) aprovaram greve por tempo indeterminado, mas não definiram a data. De quinta-feira (25) até esta terça-feira (30) houve plebiscito eletrônico, organizado pelo Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás.

Entre as demandas da categoria, está a reestruturação das carreiras do Magistério Superior e do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT). A Proifes-Federação, entidade que Adufg-Sindicato é filiado, encaminhou uma proposta ao governo federal. Nela, estão previstos reajustes para 2024, 2025 e 2026, além de outras coisas.

A votação foi apertada. 657 professores (49,62%) votaram a favor da greve, enquanto 652 (49,24%) foram contrários a paralisação. Outros 15 se abstiveram – ou seja, participaram 1.324 docentes (filiados e não filiados).

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Presidente do sindicato, o professor Geci afirmou que o Adufg-Sindicato “construiu um plebiscito democrático e fez valer o voto de todos de toda a categoria docente, seja por parte dos docentes em atividade ou dos aposentados”.

Agora, com o resultado, o Adufg-Sindicato irá comunicar a Reitoria da UFG em até 72 horas. A entidade sindical ficará responsável por todas as ações de mobilização durante o período de greve. O sindicato também informou que vai divulgar as atividades nos próximos dias.

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Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que apesar de terem maiores níveis de instrução educacional e frequência escolar, as mulheres ainda precisam lidar com diversas desigualdades, como salários mais baixos e pouca representatividade em cargos de liderança.

As diferenças se acentuam ainda mais quando algumas especificidades são postas no debate, como a área de conhecimento ou o fator racial. Segundo o levantamento, a proporção de mulheres brancas que completaram o ensino superior é de 29,0%, o dobro do observado entre as pretas ou pardas, de 14,7%.

Entre todos os grupos pesquisados, os homens pretos ou pardos foram os que apresentaram o menor percentual, 10,3%, menos da metade do registrado pelos homens brancos, com 24,9%. De acordo com Juara Castro da Conceição, doutora em comunicação e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), essa disparidade pode ser atribuída a uma formação social e pedagógica estruturada a partir do racismo.

“Nós temos três bases para pensar a formação social brasileira: gênero, raça e classe, a famosa teoria da interseccionalidade. Então, é preciso entender que existe uma diferença muito maior quando se traz raça como um fator determinante, entre homens brancos e homens negros ou entre mulheres brancas e mulheres negras”, ponderou.

“É justamente entender que a formação social brasileira se dá a partir de violência racial, a partir do racismo, e isso estrutura todas as nossas relações, obviamente atravessa o mercado de trabalho e também a educação, a possibilidade de formação educacional e de entrada no mundo do trabalho a partir da educação”, completou a pesquisadora.

Juara destaca que, nos últimos anos, o conceito de racismo estrutural, juntamente com estudos do ministro dos Direitos Humanos e Cidadania Sílvio de Almeida, passou a ser mais discutido, visando entender que as nossas relações sociais são estruturadas a partir do racismo. Porém, este fato não isenta pessoas que cometeram racismo de serem punidas.

“Pensando principalmente no mercado de trabalho, sobretudo no corpo docente das universidades brasileiras, falamos em racismo institucional. Então, será que essas universidades estão respeitando a lei de cotas? Como é que homens negros e mulheres negras vivenciam aquele espaço pedagógico? Como professores, técnicos administrativos, toda a estrutura da universidade acolhe esses corpos negros dentro desse ambiente?”, pontuou.

Sobre a baixa presença feminina no corpo docente de universidades públicas, a comunicadora ressalta a importância de especificar as áreas de conhecimento, assim como os níveis de liderança. Por exemplo, apesar das áreas de educação e ciências humanas, por exemplo, há uma presença maior de mulheres, comparado às engenharias, biológicas ou exatas.

De acordo com o Censo da Educação Superior de 2022, pessoas do sexo feminino representavam 60,3% do total de concluintes dos cursos presenciais de graduação, mas representavam apenas 22,0% dos que estavam se formando nos de ciências, tecnologias, engenharias, matemática e programas interdisciplinares abrangendo essas áreas (CTEM).

Apesar da proporção ter diminuído nos últimos 10 anos (em 2012, estava em 23,2%), Juara ressalta que os dados acabam não refletindo as “visualidades” das universidades públicas. “Quais mulheres de fato se tornam referências de pesquisa? Quais pesquisadoras são citadas, que se tornam renomadas? Sobretudo porque dentro da universidade nós temos cargos de gestão, pró-reitorias, diretorias de unidade e essa visualidade ainda não é preenchida por mulheres, sobretudo mulheres negras”, afirmou.

Economia do cuidado

Atrelada às barreiras institucionais que envolvem a formação continuada e o mercado de trabalho, a chamada economia do cuidado envolve atividade e serviços pessoais e domésticos, sem remuneração, pautados especialmente na sobrecarga feminina. Para Juara, destacando a existência de casos específicos, esse é um fator que desgasta especialmente a saúde mental das mulheres.

“A pesquisa para homens acaba sendo uma esteira de continuidade. Então, a partir do momento que um homem entra na vida acadêmica, essa escolha é muito fluida, ele faz graduação, entra no mestrado, doutorado e tudo isso, obviamente, apoiado por um trabalho invisibilizado de mulheres. Quem lava a roupa daquele homem para ele conseguir fazer o seu artigo, publicar em uma revista? Quem faz a comida, quem faz as compras da casa, quem é apoio emocional?”, destacou.

“Então, aquele homem, ele tem a sua pelada de final de semana, ele tem o momento da cervejinha e isso não acontece quando nós falamos de mulheres, isso se torna ainda mais difícil, ainda mais quando falamos de mulheres negras, a quem esse lugar do cuidado é historicamente delegado”, continua.

Segundo ela, os moldes da universidade brasileira hoje são favoráveis aos que não possuem atividades extras e possuem o privilégio de se dedicar exclusivamente a vida acadêmica, acessando bolsas, editais e publicações relevantes. “Tudo isso não é pensado para pessoas que têm uma dinâmica de cuidado e gestão doméstica e hoje nós vemos que fazer um trabalho docente e acadêmico, exclusivamente, tem sido atrelado a homens, porque a eles não é delegada essa economia do cuidado”, ressaltou.

“Homens, na maioria das vezes, não cuidam da sua própria casa. Só que não é que aquela casa está sendo cuidada por uma outra pessoa e, provavelmente, por uma mulher que não é remunerada devidamente”, concluiu Juara.



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