Jornalismo é mais saudável com assinaturas do que com anúncios, diz Frias
Lidiane 30 de setembro de 2025
Debate entre executivos abordou transformações no modelo de financiamento e relação com plataformas digitais como Google e Meta
O jornalismo profissional se torna mais robusto e resiliente quando depende de centenas de milhares de assinantes, em vez de apenas algumas centenas de anunciantes, afirmou Luiz Frias, publisher da Folha de S. Paulo, nesta 3ª feira (30.set.2025). Para ele, a mudança representa uma vantagem em relação à década de 80.
“[Nos anos 80], os jornais talvez tivessem uma participação, do ponto de vista econômico, maior do que a de hoje, mas não vejo declínio de prestígio e de influência dessas publicações ao longo do tempo. É mais saudável para o jornalismo profissional depender de centenas de milhares de assinantes do que de algumas centenas de anunciantes. Dá robustez e resiliência maior. É uma vantagem”, disse.
A declaração foi feita durante debate promovido pela faculdade Insper, realizado em São Paulo, que contou também com a participação de Erick Bretas, CEO do Estado de S.Paulo. O encontro abordou as transformações do jornalismo brasileiro nas últimas décadas, com ênfase na mudança do modelo de financiamento, em resposta às transformações digitais e às pressões econômicas que afetaram o setor.
Frias recordou que, no início da década de 1980, o modelo de negócios dos jornais era essencialmente publicitário. O Estado de S. Paulo, então dominante em classificados, tinha entre 70% e 75% da receita proveniente de publicidade, restando apenas 20% a 25% da circulação. A Folha disputava o mercado de anúncios display com o Estadão e, ao longo dos anos 1980 e 1990, passou a dividir também o mercado de classificados. “Mas eles desapareceram. Esses anúncios migraram para plataformas digitais”, disse Frias.
De acordo com o publisher, a Folha conseguiu inverter completamente essa proporção em 2024, com a maior parte da receita vinda de assinantes digitais, que representam mais de 90% do total de assinaturas individuais do jornal. Em termos de receita, o impresso ainda mantém participação superior a 10% devido ao valor mais alto da assinatura física, mas a maior parte do dinheiro de circulação já vem das assinaturas digitais. “Atravessamos o Cabo da Boa Esperança ao ter mais de 50% das receitas vindas do digital”, afirmou Frias.
Bretas defendeu que a questão central não é mais digital versus impresso, mas como uma organização jornalística consegue ter múltiplas linhas de receitas, “sejam as diretamente ligadas à operação jornalística, sejam as ligadas a novos negócios”. “Nós decidimos criar uma unidade de marketing de influência e acho que foi uma excelente decisão, porque as oportunidades começaram a aparecer. Nós começamos a ser demandados por isso, inclusive de clientes que já faziam o Estadão”, afirmou.
Disputa com plataformas de IA
Outro tema em debate foi o uso não autorizado de conteúdo jornalístico por sistemas de inteligência artificial. Erick Bretas relatou que sua equipe identificou a utilização de material do Estadão por plataformas como o ChatGPT e o DeepSeek. “O que está acontecendo hoje é roubo”, afirmou ao criticar as plataformas que utilizam conteúdo sem autorização. “Se você faz um prompt pedindo uma informação protegida por paywall, ele vai dar a resposta, mesmo com aviso explícito nos termos de uso dizendo que aquele conteúdo não pode ser usado para treinamento de modelos. Não existe outra palavra, não tem como amenizar isso”.
A Folha move ação judicial contra a OpenAI, seguindo o exemplo do The New York Times, enquanto a empresa mantém acordos remunerados com Newscorp, Financial Times e Le Monde.
Luiz Frias é bacharel em Economia pela USP, com pós-graduação em Cambridge e Sorbonne. Trabalha na Folha desde 1981 e criou o UOL em 1996. Atualmente, é acionista controlador do Grupo UOL, que reúne o PagBank, o UOL Edtech e a AIR Company. Erick Bretas tem mais de 25 anos de experiência no jornalismo. Construiu carreira no Grupo Globo, onde foi responsável pela criação do Globoplay. O executivo recebeu dois prêmios Caboré (2020 e 2023) e um Emmy Internacional de Jornalismo (2011).
Repórteres Sem Fronteiras diz que desmantelamento da agência humanitária pode impactar países sob repressão política
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez a USaid (Agência de Desenvolvimento Internacional dos EUA) congelar US$ 268,38 milhões em financiamentos ao jornalismo no mundo em 2025. A informação foi publicada pelo RSF (Repórteres Sem Fronteiras), uma organização internacional, não governamental e sem fins lucrativos. Eis a íntegra do comunicado (PDF – 1 MB, em inglês).
Segundo a RSF, os programas da USaid apoiam a mídia independente em mais de 30 países. São importantes para possibilitar o jornalismo livre em países com repressão política, por exemplo.
Organizações jornalísticas ao redor do mundo que recebem financiamento de ajuda americana contataram a RSF para expressar “confusão, caos e incerteza”. Afirmou que influenciará na atividade de veículos de mídia menores que atendem públicos que vivem “sob condições repressivas em países como Irã e Rússia”.
O congelamento do financiamento terá impacto para veículos e entidades que viviam de dinheiro estatal dos EUA. A RSF disse que a decisão de Trump terá efeito sob ONGs internacionais que apoiam a mídia independente, como a IFPIM (International Fund fo Public Interest Media). O diretor-executivo da RSF dos Estados Unidos, Clayton Weimers, disse que o congelamento do financiamento da USaid está semeando o caos ao redor do mundo, inclusive no jornalismo.
“A Repórteres Sem Fronteiras está apelando aos financiadores públicos e privados internacionais para que se comprometam com a sustentabilidade da mídia independente”, disse.
A RSF disse que veículos de comunicação tiveram que interromper algumas de suas atividades da noite para o dia. Em 2023, a USaid financiou treinamento e suporte para 6.200 jornalistas, auxiliou 707 veículos de notícias não estatais e apoiou 279 organizações da sociedade civil do setor de mídia.
O QUE É A USAID
A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional foi criada em 1961 foi pelo então presidente John Kennedy. Por decreto, ele unificou diversos programas assistenciais dos EUA. Até a chegada do republicano Donald Trump à Casa Branca em 20 de janeiro de 2025, atuava em mais de 100 países.
Nos anos 1960 e 1970, a agência era vista em países do Terceiro Mundo, como o Brasil, como um instrumento de interferência norte-americana em várias áreas, sobretudo para promover os valores políticos dos EUA. Nos movimentos de esquerda brasileiros, a USaid (cujo nome era pronunciado “usáid” por aqui) era considerada uma espécie de besta-fera do imperialismo.
A partir dos anos 1980 e, mais recentemente, nos anos 2000, a USaid passou a atuar em pautas mais ligadas a direitos humanos, meio ambiente e a favor de minorias. Houve uma aproximação de temas identitários e assim a imagem da agência mudou, passando a ser respeita pelas esquerdas em países como o Brasil –e pelos militantes do Partido Democrata nos EUA.
O nome em inglês da agência é “United States Agency for International Development”. Os norte-americanos, em geral, soletram as duas primeiras letras “U” e “S” e, depois, falam o acrônimo final como se fosse uma palavra “aid” (cujo significado é “ajuda”). O slogan da agência, logo abaixo da sigla, é “from the American People”. É que US e aid podem ser traduzidos como “ajuda dos Estados Unidos” –daí o complemento “do povo norte-americano”.
O Poder360 adota em seus textos a grafia da forma como o acrônimo é mais comumente falado nos EUA: USaid.





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