A cidade é um organismo vivo e a arquitetura é um dos elos que unem o seu passado, presente e futuro. Uma edificação é uma testemunha, um reflexo da época em que foi erguida, mas ela depende das pessoas para ser escutada e alcançar uma importância real. Em Goiânia, a escolha do art déco para a construção dos primeiros prédios da capital, que nasceu com a promessa de estimular a mudança, tem muito a dizer.
Com 22 bens tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a capital de Goiás é a casa do maior conjunto arquitetônico art déco do Brasil e o segundo do mundo. Em 2025, o estilo artístico surgido na França completa o seu centenário e o Portal da Alego dá início, hoje, a uma série especial para comemorar o aniversário da estética vanguardista que foi um marco na construção da então nova capital goiana.
O que é o art déco?
Com nome derivado do termo em francês arts décoratifs, trata-se de um estilo artístico surgido na Europa no início do século XX. Descrito como funcional e elegante, de maneira geral, tem como suas principais características o uso de formas geométricas simétricas, linhas retas e ornamentos abstratos e simplificados.
O marco de lançamento é a Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas, realizada em Paris no ano de 1925. Em decorrência de eventos como a Primeira Guerra Mundial, ocorriam transformações intensas nos campos da política, economia, filosofia, cultura, arte e arquitetura em todo o mundo.
Nesse sentido, o art déco nasceu como uma linguagem capaz de representar o espírito moderno da época nas mais diversas áreas da produção artística, de fachadas de edifícios, roupas e móveis a peças publicitárias e cartazes de cinema.
O estilo foi vastamente aplicado na arquitetura entre os anos 1930 e 1950, tendo se dispersado especialmente pelos países europeus e americanos do norte e do sul, como símbolo de progresso, detalha o doutor em Planejamento Urbano pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Fred Le Blue Assis.
No campo, o art déco apresenta a utilização de volumes, relevos, frisos e escalonamentos, valorização das portas de entrada, colunas ou pilares bem delineados. Além disso, o emprego de cores nas fachadas, a presença de vitrais e do nome do edifício em alto relevo. O aço e o concreto armado também entram em cena. É, basicamente, a união de elementos inovadores com outros previamente consagrados.
O Distrito Histórico Art Déco de Miami Beach, nos Estados Unidos, é onde está a maior concentração arquitetônica desse estilo. São mais de 800 edifícios construídos entre 1923 e 1943. Assis destaca a mistura regionalista no sítio norte-americano. “Lá, há a presença marcante de cores pastéis e influências tropicais e náuticas”, aponta. Os projetos foram influenciados pelo otimismo quanto ao futuro que o país vivia após a sua crise econômica de 1929.
No Brasil, o art déco não se restringe a Goiânia e essa manifestação com particularidades nacionais e incorporação da própria cultura local também está presente. No topo do Morro do Corcovado, no Rio de Janeiro, está a maior estátua no estilo do mundo: o Cristo Redentor. Na capital de São Paulo, há aquela que já foi considerada a maior estrutura em concreto armado do planeta, o Edifício Altino Arantes, também conhecido como Edifício Banespa ou Farol Santander. Já em Belo Horizonte (Minas Gerais), duas imensas esculturas indígenas na fachada são o destaque do Edifício Acaiaca, o primeiro arranha-céu da cidade. E esses são apenas alguns dos exemplos.
Uma escolha para a nova capital
Em Goiás, o contexto histórico da construção de Goiânia está diretamente relacionado com a escolha do art déco para várias das suas primeiras edificações.
A ideia de mudar a capital goiana surgiu ainda em meados do século XVIII. Isso porque fatores como a localização geográfica e topografia acidentada da cidade de Goiás, então sede dos poderes estaduais, a isolavam do Centro-Norte do estado, dificultavam o abastecimento e faziam com que a política ficasse concentrada nas mãos das oligarquias locais.
Entretanto, essa transição só ocorreu no início do século XX. Em 1930, um movimento político-militar de abrangência nacional encerrou o período histórico conhecido como República Velha e deu início à Era Vargas. Encarregado de estabelecer um “novo Brasil”, Getúlio Vargas assumiu a chefia do país com a promessa de reestruturar o cenário político e implementar um abrangente projeto de reformas sociais, gerenciais e políticas.
Neste cenário, Pedro Ludovico Teixeira foi nomeado como interventor federal em Goiás e foi sob sua gestão que o plano da nova capital saiu do papel. A construção de Goiânia representou justamente os ideais de mudança, interiorização do Brasil e modernização urbana que Vargas almejava estimular. Uma nova capital para os novos tempos.
A construção de uma cidade planejada, com vocação industrial, bancária e comercial, marcou uma ruptura com um suposto “atraso” generalizado do Centro-Oeste e representava o dito “avanço” regional, analisa Fred Le Blue Assis. “Em termos sociais e culturais, as mudanças foram realmente grandes, pois uma capital planejada é o sopro de futuro no pó do passado que uma cidade colonial conserva com suas memórias coletivas cerradas, que tendem a imitar a inércia de seu patrimônio material”, completa.
A implantação da cidade teve início, assim, com o lançamento de sua pedra fundamental, em 24 de outubro de 1933. Pedro Ludovico Teixeira contratou Atílio Corrêa Lima para elaborar o plano-piloto. O arquiteto e urbanista trouxe de Paris, tanto para parte do traçado urbano quanto para as edificações, referências diretas do art déco.
O estilo mostrou-se como a melhor alternativa: uma linguagem arquitetônica inovadora, mas ao mesmo tempo econômica, adequada à realidade financeira de Goiás. A escolha se conectou diretamente com o que a futura nova metrópole queria representar: inovação, progresso e modernidade. “Foi a cereja do bolo, um banho de loja parisiense, na moda da época, no sertão goiano, subliminarmente, um veículo veloz de propaganda ideológica de que a mudança política poderia ser tão radical como o impacto dessa nova capital fora para os olhos”, expõe Assis.
O art déco em Goiânia
As primeiras edificações públicas no estilo a serem erguidas foram o Palácio das Esmeraldas e a antiga Secretaria-Geral (atual Centro Cultural Marieta Telles), ambos na Praça Cívica. Elas evidenciam, principalmente, características como a presença de linhas retas, sóbrias, horizontalidade e geometrização das formas.
Por outro lado, em obras feitas posteriormente, como o Teatro Goiânia e a Estação Ferroviária, percebe-se uma decoração mais expressiva e marcante. O art déco também se manifestou em construções particulares, principalmente em residências de famílias de classes sociais altas no centro da cidade, hotéis, na arquitetura religiosa e em alguns colégios.
No ano em que completou os seus 70 anos, Goiânia alcançou um lugar de destaque histórico, estético e artístico nacional com o tombamento de seu acervo arquitetônico art déco pelo Iphan.
Os bens reconhecidos no núcleo pioneiro de Goiânia são divididos em dois grupos, o conjunto da Praça Cívica e o de bens isolados. O primeiro é composto pelo coreto, fontes luminosas e obeliscos com luminárias da praça; Palácio das Esmeraldas; Tribunal Regional Eleitoral, torre do relógio da Avenida Goiás e pelos prédios ocupados originalmente pelo Fórum e Tribunal de Justiça; Departamento Estadual de Informação; Delegacia Fiscal; Chefatura de Polícia; Secretaria-Geral e residência de Pedro Ludovico Teixeira. Já o Liceu de Goiânia, o Grande Hotel, o Teatro Goiânia, a Escola Técnica, a Estação Ferroviária, o trampolim e a mureta do Lago das Rosas constituem o outro grupo. Além desses, no núcleo pioneiro de Campinas, os antigos Palace Hotel, Subprefeitura e Fórum de Campinas também foram tombados.
Esta série especial da Agência de Notícias Yocihar Maeda irá, semanalmente, resgatar um pouco da história e abordar o presente de cada um deles.
Centenário, patrimônio e preservação
O presidente da Comissão de Cultura, Esporte e Lazer da Alego, deputado Mauro Rubem (PT), defende que é importante que os goianos comemorem o centenário do art déco. “A introdução do estilo no país representou uma superação de modelos, tanto arquitetônicos como de próprio comportamento da sociedade, e Goiânia é extremamente privilegiada nesse sentido”, opina. Na visão do deputado, a adoção do estilo marcou um período de desenvolvimento histórico, sendo necessário reconhecer, valorizar e preservar esse patrimônio.
Para planejar as ações de comemoração dos 100 anos do estilo artístico, o Poder Executivo municipal criou comissões interinstitucionais a partir do Decreto Municipal nº 2057/2025. Representante do Parlamento goiano na comissão organizadora, deputado Virmondes Cruvinel (UB) acredita que há motivos para celebrar. “Goiânia é uma referência nacional e até internacional quando o assunto é art déco. Valorizar este legado é reconhecer nossa identidade, nossa história e nosso potencial turístico e cultural”, justifica.
O legislador ressalta que a Alego tem o papel de criar leis e cobrar políticas públicas que garantam a preservação do patrimônio. “A boa legislação pode e deve conciliar o desenvolvimento urbano com o respeito à nossa história. Uma coisa não precisa excluir a outra”, considera Cruvinel.
As comissões organizadora e executiva que irão planejar e executar as comemorações estão sob gestão da Agência Municipal de Turismo e Eventos (GoiâniaTur). Para a presidente do órgão, Nárcia Kelly, festejar o art déco é reconhecer a importância desse patrimônio como parte essencial da identidade goiana. “Também é uma oportunidade de valorizar a memória urbana, promover educação patrimonial e impulsionar o turismo cultural, conectando o passado e o presente”, adiciona.
O arquiteto Fred Le Blue Assis reforça a relevância de estimular a consciência histórica e a vincular à cotidianidade, a fim de evitar que um território de legado e potencialidades se torne um “lugar de memória do esquecimento coletivo”. “Dito isso, sem o art déco e outros patrimônios da cidade, certamente haveria uma banalização do imaginário urbano e do inconsciente coletivo da cidade, que acentuaria sua tendência de verticalização e densificação desurbanizante e desumanizante”, observa.
Nesse sentido, segundo a chefe da GoiâniaTur, o papel com as ações do centenário é justamente fortalecer essa conexão e trazer à tona as narrativas por trás desses prédios, valorizando a memória coletiva e ampliando o acesso e o conhecimento sobre esse legado para todo mundo.
Até o momento, já foram realizados o lançamento oficial das comemorações e o lançamento de concursos de fotografia e de redação. Para o segundo semestre, Nárcia Kelly revela que estão previstas ações como o encontro “Art Déco em Debate”, em agosto; um passeio temático guiado pelos principais marcos para integrar história, arquitetura e experiência urbana, em setembro; e, por fim, seu encerramento oficial na Estação Ferroviária, em outubro, com a entrega de medalhas comemorativas.
Parlamento rende homenagem ao Conselho Regional de Química pelos 40 anos de fundação, em iniciativa de Antônio Gomide
Lidiane 22 de junho de 2025
Em sessão solene no Plenário Iris Rezende, a Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) celebrou o Dia do Químico no Brasil e os 40 anos da Conselho Regional de Química da 12ª Região (CRQ-12), que abrange os estados de Goiás, Tocantins e Distrito Federal. A solenidade, na noite de quarta-feira, 18, foi realizada por iniciativa do deputado Antônio Gomide (PT), que também solicitou a concessão do Certificado do Mérito Legislativo a 76 profissionais químicos, como reconhecimento à contribuição da classe à sociedade goiana.
Em sua justificativa, Gomide destacou que o profissional químico se faz presente nos mais variados setores da sociedade, com atribuições que vão desde a indústria até o meio ambiente, abrangendo também o ensino e a pesquisa.
Segundo o legislador, valorizar o profissional químico é reconhecer quem transforma conhecimento em desenvolvimento, inovação e soluções que melhoram a vida da população. “É uma profissão essencial para o futuro do nosso estado e do nosso país.”
Em função de uma infecção urinária, Antônio Gomide não pôde comparecer à solenidade e pediu à sua correligionária Bia de Lima (PT) para conduzir a sessão. Além da deputada, que comandou os trabalhos, compuseram a mesa diretiva: o vice-presidente do Conselho Federal de Química (CFQ), Wilson Botter Jr.; e o presidente e o vice-presidnete do CRQ-12, respectivamente, Evilázaro Menezes de Oliveira e Luciano Figueiredo de Souza, além dos conselheiros Carla Jovânia da Silva Colares, Renato Rossetto e Celso Flávio da Silva.
Em sua fala, Bia de Lima destacou que fazer o reconhecimento do papel dos químicos só engrandece o Parlamento goiano, já que se trata de uma área sabidamente valorosa, que envolve muita pesquisa e estudo e que precisa ter mais visibilidade por parte da sociedade.
Compromisso
A parlamentar sublinhou que os mandatos dela e de Antônio Gomide têm compromisso com a luta pelo coletivo, em defesa das entidades que trabalham pela valorização e organização das categorias profissionais, a exemplo do que faz o CRQ-12. “E buscando, todos nós, um único objetivo, que é melhorar a qualidade de vida das pessoas. Isso é muito importante. Por isso, nesse momento, felicito cada um de vocês, tanto os membros do conselho, familiares e profissionais.”
Em seguida, foi exibido um vídeo do deputado Antônio Gomide, com uma mensagem aos homenageados da noite. O deputado inicia saudando os 40 anos do CRQ-12, que, segundo ele, em todo esse período tem atuado a serviço da valorização da categoria. Ela diz que a química é uma ciência que transforma realidades e, que, ao longo da história, deu ao mundo nomes como Alfred Nobel, símbolo maior do reconhecimento à ciência e ao progresso humano.
Gomide lembrou que no nosso estado, a contribuição da química também é marcante, desde a criação da Indústria Química de Goiás (Iquego), com o objetivo de produzir medicamentos gratuitos e possibilitar a melhoria da saúde pública no estado. “A partir dali o nosso estado passou a ocupar um lugar de destaque na produção de medicamentos genéricos, cosméticos, tintas, combustíveis e tantos outros insumos que são fundamentais na vida do povo goiano. Hoje os nossos químicos estão presentes em toda a cadeira produtiva.”
Na sequência, foi exibido um outro vídeo, institucional, produzido pelo sistema CFQ e CRQs e que mostra no que consiste o trabalho do químico.
A solenidade contou ainda com a apresentação musical do cantor e animador Antônio Baiano, acompanhado do violonista Lucas Ribeiro, que fizeram a apresentação de dois números musicais.
Em seu discurso o presidente do CRQ-12, Evilázaro Menezes de Oliveira, pontuou que a homenagem que os colegas estavam recebendo era como uma renovação de compromisso de cada profissional. “Hoje vocês estão recebendo um segundo diploma. É um diploma de consagração, um diploma que os honra pelo juramento que fizeram na colação de grau. Esse é um momento extremamente importante, de celebração daquilo que vocês se comprometeram a cumprir lá no final do curso que vocês fizeram.”
O líder classista lembrou ainda que o trabalho dos químicos é fundamental para o progresso do país e o funcionamento da sociedade, além de estar presente em nossa vida diária. Segundo ele, são os profissionais da química que garantem a qualidade da água que bebemos, a eficácia dos medicamentos que nos curam, a segurança dos alimentos que chegam à nossa casa e a inovação que move a indústria.
Oliveira defendeu a necessidade de a sociedade conhecer e reconhecer mais o trabalho desses profissionais. “Que a sociedade veja no químico mais que um jaleco branco ou um tubo de ensaio, que reconheça nele ou nela o solucionador de problemas, o guardião da qualidade, o agente da inovação, o pilar silencioso do desenvolvimento sustentável. Não tem desenvolvimento sustentável sem o papel do químico na nossa sociedade”.
Protagonistas
O conselheiro do CRQ-12 Celso Flávio recebeu o Certificado do Mérito Legislativo representando todos os outros homenageados e discursou em nome deles. O profissional lembrou que, que além de atuar em várias questões que impactam a vida de todas as pessoas, os químicos são protagonistas nos medicamentos que salvam vidas, nos materiais que estruturam as cidade, nos fertilizantes que garantem a produtividade no campo e em produtos que tornam o dia a dia mais prático, seguro e sustentável.
E mais ainda, segundo Flávio, a indústria química é um dos pilares da economia nacional. “Contribuímos significativamente para o PIB [produto interno bruto] nacional, geramos empregos qualificados, atraímos investimentos e posicionamos o Brasil no cenário global da inovação.”
Ele observou, porém, que a paixão que move os profissionais é mais inspiradora do que os números e as conquistas “Sabemos o que é virar noites ajustando experimentos, insistindo frente aos desafios, que não são poucos, acreditando em ideias para transformar as vidas e fazer com que elas sejam cada vez melhores, inclusive, no ensino em escolas e universidades.”


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