No Banner to display

21 de setembro de 2024
  • 09:25 ‘Vamos entregar o Hospital Municipal nos dois primeiros anos’
  • 05:41 Ex-prefeita de Catanduvas (SC) é indiciada por furto em Fortaleza
  • 01:57 Bia de Lima homenageia trabalhadores administrativos da educação na segunda-feira, 23
  • 22:11 Hugo Vitti se apresenta nesta sexta-feira na Cervejaria Cerrado
  • 18:25 Nike anuncia Elliott Hill como novo CEO


Foto: Michel Queiroz/Divulgação
Cena do filme “Capim Navalha”,
longa-metragem exibido no 18º For Rainbow

“A paz não fede e nem cheira. A paz parece brincadeira […] A paz é muito certinha, tadinha, a paz é branca. A paz é pálida. A paz não mora no meu tanque. A paz precisa de sangue”, declama Meujaela Gonzaga, artista pernambucana que, infelizmente, faleceu após as filmagens do longa “Capim Navalha” no ano passado, aos 26 anos.

No debate que aconteceu ao fim da sessão do 18º For Raibow – Festival de Cinema e Cultura da Diversidade Sexual e de Gênero, evento que chegou ao fim nesse fim de semana, o diretor Michel Queiroz revelou seu luto por conta dessa partida, informando que fará outro corte da obra para homenageá-la. 

Enquanto ainda assistia ao filme, eu já sabia que este texto começaria com a recitação do conto de Marcelino Freire, antes que essa informação se revelasse ainda mais trágica pelo fato de que a expectativa de vida de 35 anos para pessoas trans é um dado relembrado algumas vezes por personagens do documentário.

Com a voz insurgente da Meujaela, o texto parecia sintetizar muito do que as pessoas entrevistadas relataram ter enfrentado para assumirem suas identidades em meio ao conservadorismo.

Dividido em seis partes, “Capim Navalha” escuta as experiências de seis pessoas trans que vivem na Chapada dos Veadeiros, incluindo pessoas não-binárias, homens e mulheres trans: Martha, Lilith, Raphaely, Marcelo, Gustavo e Ruby. Para além dos processos em comum na ruptura com a resistência dos outros, há também a forma como essas identidades estão ligadas às suas espiritualidades, da umbanda aos rituais de ayahuasca. “Foi algo que veio de forma muito natural”, comenta Michel.

O filme também enquadra grande parte das personagens em meio às paisagens do cerrado goiano, como as serras, terras, lagos e cachoeiras, fazendo com que esse ambiente seja uma metáfora em si, como um espelho da “natureza” que aquelas pessoas precisaram encontrar por dentro.

“Eu queria, de verdade, ser respeitado por quem eu sou, e não por quem meu corpo mostra que eu sou”, diz Gustavo sobre fundo nítido da chapada. O diretor conta que “o Cerrado é um personagem também e os lugares das entrevistas foram relacionados ao valor emotivo de cada pessoa, onde ela se sentia mais confortável”

O filme surgiu a partir do curta-metragem homônimo que Michel exibiu no próprio For Rainbow, em 2022, porque sua circulação por festivais e mostras fez com que o diretor conhecesse outras pessoas trans da região e então partisse para a produção de uma nova obra. “Realizei o curta e passei um ano pesquisando. Alguns personagens acabaram não entrando, tinha até uma criança, mas por conta de uma transfobia muito difícil acabou não acontecendo”, comenta.

Apesar da estrutura convencional de depoimento com breves inserções de imagens referente às atividades de cada pessoa, o filme tem uma simplicidade comovente, sobretudo por deixar as pessoas entrevistadas muito à vontade para revelarem lembranças e sentimentos que muitas delas ainda não tinha dito em voz alta até o momento da gravação.

Costurando as falas, que são independentes entre si como numa série dividida por episódios, outras imagens vão construindo diferentes contextos – ganham destaques os planos fechados, como na cena de aplicação de hormônio, momentos de festa e detalhes das paredes e objetos das casas, e os abertos, como o pedalar de bicicleta e o banho nas águas correntes e paradas do interior.

Após a exibição do filme, o festival organizou um breve bate-papo contando que este foi o único longa-metragem brasileiro que o diretor pôde estar presente no evento. A conversa foi guiada por Dediane Souza, coordenadora de Diversidade, Inclusão e Cidadania da Secult-CE. “Mesmo nesses lugares, existe uma ausência de se ver no outro. Interessa muito essa construção de pontes e de referências, algo que no filme fica muito visível”, comentou a antropóloga.

Apesar dos conflitos que todos narram ao falar do processo de transição, o documentário dá mais volume às felicidades e ao bem-estar que essas pessoas alcançaram ao longo do tempo. Não à toa o filme termina com imagens de Ruby cavalgando no seu próprio cavalo sobre uma paisagem ampla e banhada pela luz dourada do sol, deixando na plateia uma incontornável sensação de liberdade.

“Capim Navalha” concorreu na Mostra Competitiva Internacional de Longa-Metragem do 18º For Rainbow e venceu nas categorias de Melhor Trilha Sonora, Menção Honrosa, além do Prêmio da Crítica. (Arthur Gadelha)

 



Autor


Nove anos depois de ser nomeado um dos diretores a serem observados pela Variety, Sean Baker ganhou a Palma de Ouro por “Anora”, um romance turbulento e turbulento entre um dançarino exótico (Mikey Madison) e o filho obscenamente rico de um oligarca russo (interpretado por Mark Eydelshteyn). Baker é o primeiro cineasta norte-americano a conquistar o prêmio principal do festival desde que Terrence Malick ganhou a Palma por “A Árvore da Vida” em 2011.

“Anora” é o terceiro filme de Baker a estrear em Cannes, depois de “Projeto Flórida” e “Red Rocket”. Ele recebeu o prêmio das mãos de Francis Ford Coppola, duas vezes vencedor da Palma de Ouro, e cujo filme “Megalópolis”, que estava em competição, voltou para casa de mãos vazias. Coppola também entregou uma Palma de Ouro honorária a seu amigo e também lenda do cinema George Lucas, a quem ele chamou de “irmão mais novo”.

A estrela de “Call My Agent”, Camille Cottin, foi a anfitriã da premiação do Festival de Cinema de Cannes de 2024, onde a diretora e atriz Greta Gerwig presidiu um júri majoritariamente feminino composto pelo diretor espanhol Juan Antonio Bayona, o ator e roteirista turco Ebru Ceylan, o ator italiano Pierfrancesco Favino, a atriz norte-americana Lily Gladstone, o diretor japonês Hirokazu Kore-eda, a atriz e diretora libanesa Nadine Labaki e as estrelas francesas Eva Green e Omar Sy.

O júri ampliou a habitual categoria de melhor atriz para celebrar o que Lily Gladstone chamou de “a harmonia da irmandade” no filme “Emilia Pérez”. Dirigido pelo ex-vencedor da Palma de Ouro Jacques Audiard (“Dheepan”), o musical ambientado no México – sobre um chefe de cartel que desaparece para ressurgir como mulher – é estrelado por Zoe Saldaña, Selena Gomez e a estrela trans Karla Sofía Gascón. O filme também ganhou o prêmio do júri.

O júri também criou um prémio especial – saudado com uma ovação entusiástica de pé – para o realizador iraniano Mohammad Rasoulof, que compareceu ao Festival de Cinema de Cannes correndo grande risco pessoal, fugindo de uma pena de oito anos de prisão por ter realizado o drama político “A Semente da Figa Sagrada”. O filme de três horas examina o recente movimento Mulheres, Vida, Liberdade no país através de uma família de classe média cujas duas filhas questionam o papel do pai no regime.

MOSTRA COMPETITIVA:

Palma de Ouro Melhor Filme: “Anora”, Sean Baker

Grande Prêmio: “Tudo o que imaginamos como luz”, Payal Kapadia

Diretor: Miguel Gomes, “Grand Tour”

Ator: Jesse Plemons, “Tipos de Bondade”.

Atrizes: As atrizes de “Emília Pérez”

Prêmio do Júri: “Emilia Pérez”

Prêmio Especial (Prix Spécial): Mohammad Rasoulof, “A Semente do Figo Sagrado”

Roteiro: Coralie Fargeat, “A Substância”

OUTROS PRÊMIOS

Câmera de Ouro: “Armand”, Halfdan Ullman Tondel

Menção especial da Camera de Ouro: “Mongrel”, Chiang Wei Liang, You Qiao Yin

Palma de Ouro de Curta-Metragem: “O Homem que Não Podia Permanecer Silencioso”, Nebojša Slijepčević

Menção Especial Curta-Metragem: “Bad for a Moment”, Daniel Soares

Golden Eye Documentary Prize: “Ernest Cole: Lost and Found” and “The Brink of Dreams”

Queer Palm: “Three Kilometers to the End of the World”

Palme Dog: Kodi, “Palm Dog”

FIPRESCI Award (Competition): “The Seed of the Sacred Fig,” Mohammad Rasoulof

FIPRESCI Award (Un Certain Regard): “The Story of Souleymane,” Boris Lojkine

FIPRESCI Award (Parallel Sections): “Desert of Namibia,” Yoko Yamanaka

UN CERTAIN REGARD

Un Certain Regard Award: “Black Dog,” Guan Hu

Jury Prize: “The Story of Souleymane,” Boris Lojkine

Best Director Prize: (ex aequo) “The Damned,” Roberto Minervini; “On Becoming a Guinea Fowl,” Rungano Nyoni

Performance Awards: “The Shameless,” Anasuya Sengupta; “The Story of Souleymane,” Abou Sangare

Youth Prize: “Holy Cow! (Vingt Dieux),” Louise Courvoisier

Special Mention: “Norah,” Tawfik Alzaidi

DIRECTORS’ FORTNIGHT

Europa Cinemas Label: “The Other Way Around,” Jonás Trueba

Society of Dramatic Authors and Composers Prize: “This Life of Mine,” Sophie Fillières

Audience Choice Award: “Universal Language,” Matthew Rankin

CRITICS’ WEEK

Grand Prize: “Simon of the Mountain,” Federico Luis

French Touch Prize: “Blue Sun Palace,” Constance Tsang

GAN Foundation Award for Distribution: Jour2Fête, “Julie Keeps Quiet”

Louis Roederer Foundation Rising Star Award: Ricardo Teodoro, “Baby”

Leitz Cine Discovery Prize (short film): “Guil Sela,” Montsouris Park



Autor